Helena Kolody me conquista a cada poesia sua que leio e reflito. As suas palavras, "deixou seu rosto" marcado na memória de muitos dos seus admiradores, o seu olhar sensível do seu cotidiano, como esta poesia.
Reminiscência
Ai, como a casa pesava
Na minha infância sombria!
O Pai não falava.
- só fumava, só fumava!
e já quase não sorria.
Aquela gente passava.
aquela gente não via.
Calado, o Pai refletia.
Refletia e suspirava.
A venda, sempre vazia,
De teias toda se enchia
E o pó crescia no chão.
Aquela gente não via.
Aquela gente sem coração!
E quando a tarde se alava,
Ai, como a casa oprimia!
A noite, o Pai recontava
A magra féria do dia.
E depois já não falava.
E ao jantar, já não comia.
Pra chorar, Mãe se escondia.
Na rua, agente passava.
E aquela gente sorria!
Indomável alma brava
Que tão fácil não cedia,
Pai lutou, até que um dia,
Com ar de quem se matava,
Vendeu a casa sombria.
E a gente, aquela, tardia.
Foi levar Pai à estação.
Do livro A Sombra no Rio de 1951 e que faz parte do Livro Viagem no Espelho, segunda Edição 1995.
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